12/06/15 – A Tarde Online
Dia dos Namorados: O amor supera barreiras
Fabiana Mascarenhas
Evan Deval, 44, é carioca e artista plástico. Tote Macedo, 51, um militar aposentado baiano que adora cozinhar. Há dois anos e meio, a arte de Evan encontrou a paixão pela gastronomia de Tote. Talvez tenha sido o contrário, mas tanto faz. Importante mesmo é que, há dois anos e meio, eles se encontraram em uma rede social, conversaram, trocaram telefone e, desde então, estão juntos.
No apartamento em que vivem, no Rio Vermelho, também moram os seus cães/filhos Bidu e Lola. Juntos, formam uma família. Há quem conteste e defenda o modelo de família tradicional e heteronormativo, formado por um homem e uma mulher. Um modelo ultrapassado – também há quem diga -, afinal as famílias adquiriram novas configurações, que vão, inclusive, muito além das relações constituídas por pessoas do sexo oposto ou do mesmo sexo.
Apesar da resistência de alguns, o número de famílias ‘não tradicionais’ só aumenta. No caso das relações homoafetivas, por exemplo, são pelo menos 60 mil casais no Brasil, segundo o último levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso sem contar as relações não declaradas.
Tote e Evan preferem se posicionar sem levantar bandeiras, tampouco alimentam debates em torno do tema. “Há cada vez mais uma comercialização do assunto. Na maioria dos casos, mais do que discutir sobre respeito e direito à diversidade da comunidade LGBT, o que há é o interesse em vender, em ganhar ibope”, acredita Evan.
Por isso mesmo, o casal optou apenas por viver atento aos seus direitos, mas sem se preocupar com o possível preconceito e as polêmicas. Casal? Não somente. “Somos uma família. Como qualquer outra”, diz Tote.
O conto de fadas baiano
José Alberto Piñón e Elis Sales (Foto: Lúcio Távora | Ag. A TARDE)
Não é exagero afirmar que a história da jornalista Elis Sales, 33 anos, e do engenheiro civil José Alberto Piñón, 71, daria um conto de fadas. Eles se conheceram quando ela – que nasceu em uma família simples do interior da Bahia – ainda tinha 18 anos, muitos sonhos e mal sabia o que queria da vida.
Ele – nascido de uma família abastada – já era um homem de 57 anos, com três filhos adultos, uma vida estruturada e uma trajetória profissional de sucesso.
Apesar de muito jovem, Elis já acumulava algumas frustrações amorosas e sonhava encontrar um homem que a respeitasse e tivesse os mesmos valores familiares que ela.
“Sempre quis ter alguém dedicado à família, companheiro, amável e que valorizasse as coisas simples da vida”, diz Elis. Em uma manhã de setembro do ano 2000, eles se conheceram. E se apaixonaram. “Foi amor à primeira vista”, conta a jornalista.
Mas, semelhante ao que ocorre nos contos de fadas, o casal enfrentou muitas dificuldades até conseguir, enfim, ficar junto. Não apenas pela diferença de 38 anos de idade entre os dois, mas também pela condição socioeconômica distinta.
“Nesse meio, há preconceito. Não dá para negar, mas a melhor forma de lidar com o preconceito é ignorando-o. A nossa relação não pode ser pautada pelo que as pessoas pensam. Elas não têm que aprovar ou aceitar nada. A vida é nossa, e o importante é o que sentimos”, diz José Alberto.
São 14 anos de relacionamento. Destes, sete de casados. Recentemente, eles tiveram um casal de gêmeos, hoje com 2 anos e meio. E assim vão vivendo o seu conto de fadas. O final? Quem há de saber! Certo é que, agora, Elis e José vivem uma história feliz.
Opostos e semelhantes
Jose Casal e Tati Sacramento (Foto: Lúcio Távora | Ag. A TARDE)
A jornalista e blogueira Tati Sacramento, 33, e o gerente de qualidade Jose Casal, 37, têm como diferenças mais marcantes a raça e a origem. Ela é negra, ele, branco. Ela brasileira, ele, espanhol.
Mas as diferenças entre o casal encerram-se por aí, já as semelhanças são muitas. Ambos têm os mesmos gostos, personalidade e senso de humor. Ambos são virginianos e apaixonados um pelo outro e, também, por gastronomia.
Juntos há 11 meses, são exatamente as afinidades afetivas, intelectuais e culturais que os mantêm unidos. “Somos extremamente parecidos. É muito bom poder desfrutar de um relacionamento com alguém assim”, diz Jose.
É comum, no entanto, encontrar quem se apegue exclusivamente às diferenças entre eles para julgar o relacionamento.
“Infelizmente, vivemos em uma sociedade racista e, para muitos, sou a mulata baiana que fisgou o gringo por interesse”, diz a jornalista, citando uma situação triste e ainda comum no Brasil quando o assunto é o relacionamento inter-racial.
O preconceito diário, às vezes, é sentido nos olhares de surpresa e desaprovação quando o casal anda pelas ruas, passeia no shopping ou entra nos restaurantes.
Às vezes, porém, é mais explícito e vem de quem menos imaginavam. Recentemente, por exemplo, Tati foi censurada por um grande amigo – também negro como ela – por estar namorando um homem branco.
“Na visão dele, eu estava traindo a nossa raça, o que é uma estupidez. Não me apaixono pela raça de alguém, me apaixono pela pessoa. Fui obrigada a cortar a relação com ele. Respeito as escolhas de todo mundo e exijo que respeitem as minhas”, diz Tati.
Esse foi apenas um caso e, eles sabem, não será o último. Mas alheios a qualquer tipo de preconceito, eles seguem. Opostos e semelhantes. Diferentes e iguais. E felizes, o que é mais importante.